Repensando Aqui

... O breve e o fato

São quase 2 horas. Passando pela avenida percebe-se em meio ao aglomerado de cabeças que se entreolham curiosas, um corpo imóvel. O corpo coberto por um papelão, provavelmente disponibilizado por algum dos curiosos permitia apenas a breve vizualização dos pés. Pés calçados em um par de chinelas simples, o que denunciava ocasião corriqueira em que a vítima se encontrava ao ser surpreendida pela fatalidade que acredito ter sido atropelamento, ou apenas denotava origem simples. Não pude ver mas creio ser uma mulher.

Não havia muita movimentação de veículos no local, apenas transeuntes curiosos, uma ambulância e uma moto que provavelmente pertencia a um dos que ali observavam o corpo de perto.

O corpo ali no chão, imóvel era de tal frieza que chegava a dar arrepios. Denunciava a finitude, a brevitude. O limite invólucro que tudo ronda de forma silenciosa. Imaginar a cena do acidente em um flash back não pareceu um exercício agradável.

A vida ali havia expirado e tudo o que houvera sido parecia ter se esvaido deixando ali apenas massa. Massa transfigurada, impactante e imóvel. Todas essas acepções se deram em um curto intervalo de tempo. Tão curto talvez quanto o intervalo de tempo que definiu a cena presente. Estava ali um corpo. Mas não era apenas um corpo. Deus a tenha e possa estar perto de seus familiares. Não era apenas mais uma vida. Era uma vida, uma pessoa, uma família, irmãos, amigos e talvez filhos...

JeEH Alves