"Eu canto em português errado. Acho que o imperfeito não participa do passado" (R.R)

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22 de outubro de 2010

Aversão


Seria mais uma aula regada a palavras, expressões, fisionomias e gestos habituais e comuns- ou não - àqueles que se encontravam ali, não fosse o anúncio da visita de uma aluna americana. A primeira reação foi fisionômica. Um enrubescimento pouco notável mas coberto de algum significado que eu considerava digno de tal gesticulação facial. A segunda reação se deu em cadeia, e foi uma extensão da primeira, e se de fato ocorreu depois foi por fração de segundos. Um pensamento embuido de idéias prévias. Talvez uma aversão. Mas aversão é uma palavra bonita, para não enfeitar direi de fato o que era: preconceito.

Pensei: Tomara que não seja mais um representante do país que se considera o umbigo do mundo, querendo olhar o povo de cima pra baixo. A professora em seguida explicou que a aluna estava participando de um programa para americanos de baixa renda que pretendem fazer intercâmbio e que estava aqui para aprender português, enquanto alguém daqui fazia o mesmo por lá, aos cuidados da sua família. Até então isso era uma prévia e a aula seguiu, sem presenças estranhas à nós. A afirmação diminuiu em nada aquela sensação de “vai entrar um bicho exótico na sala daqui a pouco” que era perceptível na turma.

Não tardou para que a aluna viesse para conversar com a gente. Em português bem fluente, para quem havia embarcado aqui a apenas dois meses, respondeu às nossas perguntas, riu um bocado com a gente e pareceu mais brasileira do que muitos que conheço. A cortina se desfez. Percebi que as reações primeiras eram puro preconceito. Impressões minhas. Aversões que não devem ser estendidas, generalizadas e nem aplicadas gratuitamente.

Não devemos amar todos os americanos, colocá-los em pedestais e endeusá-los - como um primo meu se pudesse bem que faria - ,mas também não podemos pré julgar ninguém. Achar que todo americano vai se achar o máximo no Brasil e vai nos olhar com desdém é o mesmo que dizer que o Brasil é sinônimo de bunda e festa, que todo afegão pode explodir uma bomba perto de você a qualquer momento e que os europeus são mais cultos. Bobagens vendidas. Verdades parciais. Certezas que reduzem nossa sensiblidade a nada. Puro desconhecimento. No bom (?) português: pré-conceito, ou preconceito . O que às vezes não faz muita diferença. É. Alguma coisa a gente aprende de vez em quando em sala de aula, né?

Um comentário:

  1. Que experiência boa, guria! Queria poder conhecer também algum americano, mas lá na faculdade há só um pessoal de Guiné-Bissau e um rapaz da França. A troca de cultura e conhecimentos é o mais enriquecedor nesses casos, guria!
    Belo post, adorei.
    Um beijo!

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