"Eu canto em português errado. Acho que o imperfeito não participa do passado" (R.R)

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22 de outubro de 2011

Sem nexo

baixo
ressoa
Blues
velas
telas
reflexo
amontoado
almejo
intacto
retrato
autofalante

E eu tenho mesmo o costume de fazer coisas rabiscando. Talvez como uma garantia inconsciente da concretização daquilo que permeio, do que me mantém envolta nas mais diversas atividades que pratico durante o dia. E não raro, quando pego aquele livro que usei ha alguns meses como objeto de estudo para teste, ou a folha com a orientação da experiência, percebo que estão lá as minhas palavras soltas, que me permitem inclusive reações diversas. Pelo sentido, que logo me remonta ao que ocupava meus pensamentos naquele instante ou pela falta dele , já que muitas vezes constam ali apenas palavras ou letras. Estas, associadas à fórmulas ou abreviações, aquelas a pensamentos ou imagens imediatas.
Hoje resolvi que isso teria lugar aqui.

5 de junho de 2011

Vô não vô

Depois de muito é com enorme satisfação que posto aqui um texto da Joyce Ramos Araújo - aluna do 3º período de engenharia elétrica na UFMA, amiga querida - que contribui pela primeira vez com o blog falando a respeito de um assunto muito pertinente e atual, com o qual sem dúvida você que agora lê este parágrafo de apresentação, como provável assíduo usuário de redes sociais já se deparou várias vezes. Ótima leitura! o/


As palavras que seguem são todas dela. (Ressalva: Além de exímia dissertadora ela é modesta. Vocês vão ver que este primeiro parágrafo é canja)

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Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir para que você (leitor) faça vista grossa aos tons de oralidade, as palavras populares utilizadas e as possíveis virgulas e acentos ortográficos “engulidos” no texto abaixo. O ultimo texto que escrevi foi a redação do Enem 2009 e só tive a audácia de escrever novamente porque precisava exprimir minha contrariedade a essa onda corrente de comodismo virtual. Peço que entendam que a discussão iniciada aqui é complexa e que abordei apenas uma parcela ínfima dessa discussão. Boa leitura!


não vô
É sabido e já foi diversas vezes discutido que o advento da internet e principalmente das redes sociais trouxe consigo a banalização da utilização de algumas palavras e seus significados. Posso citar como exemplos os famosos, “eu te amo” e o “feliz aniversário fulano”. Esses são exemplos mais imediatos quando se fala em banalização nas redes sociais. Mas, eis que surge agora, em meio ao caos “político-moral-social-infra-estrutural” que nosso estado enfrenta, mais um caso para a lista das banalizações: criações de eventos de manifestações contra o governo no facebook e twitter. Aposto que você já recebeu o convite para alguma, não é mesmo?Seja contra castelo ou até mesmo contra o governo federal. E é justamente na resposta que você concede ao convite e naquilo que é postado nos murais desse eventos que evidencia-se a banalização.
Responder sim a esses eventos significa (pelo menos teoricamente) que o cidadão está se comprometendo a de fato sair do conforto de sua casa para participar da manifestação no horário e local marcado, portando cartazes ou materiais criativos combinados na organização. Mas será que isso acontece?Ao ler as postagens publicadas nos murais tenho a impressão de que a maioria das pessoas que confirmam o convite do evento não tem essa consciência. Dessa forma, mobilizações via facebook/twitter acabam se tornando mais uma forma cômoda e inútil de reclamar. É fácil reclamar nos ônibus, nas paradas e entre os conhecidos... Mais fácil ainda é confirmar presença em um evento abstrato ou publicar uma tag quando se está no twitter. Difícil é tornar essas idéias concretas.
Mas isso não significa que os protestos iniciados via redes sociais estão fadados ao fracasso. Pelo contrário, apenas deveríamos saber utilizar a popularidade das redes sociais ao nosso favor. Um movimento de protesto ou qualquer mobilização popular desejada, para ser efetivo pode até começar na internet, mas somente torna-se real se tiver a adesão da população em geral(e que diga-se de passagem não está no facebook e muito menos no twitter). Como exemplo notório, posso citar os 20 milhões de votos recebidos pela candidata a presidência Marina Silva. A candidata tinha pouco espaço de divulgação nos veículos de comunicação. Então, a campanha começou e se fortaleceu na internet, mas se tivesse ficado restrita a esse meio, a candidata não alcançaria essa totalidade de votos(visto que a candidata possuía menos de 1 milhão de seguidores no twitter, por exemplo). Então, de onde surgiram os 20 milhões de votos? Na era da internet o boca-boca ainda acaba sendo a forma mais efetiva de mobilização popular (eu, por exemplo, convenci umas 10 tias a votarem na Marina). Portanto, por si só as mobilizações via internet não se sustentam. A criação desses eventos deveria servir para unir pessoas com o sentimento de inconformismo e com espírito revolucionário, mas realistas sem parecerem membros sonhadores utópicos do PSTU. Nesse ponto, o facebook é uma boa “ferramenta de busca” para encontrar essas pessoas e fomentar a semente do protesto/manifestação/mobilização.
Porém, além de toda essa consciência citada acima, para que as manifestações finalmente saíssem da telinha e se transformassem de fato em um grito popular, acredito que os usuários deveriam aplicar o significado literal de uma palavra bem conhecida, denominada: foco!!. As discussões nesses eventos deveriam ser objetivas e responder aos seguintes questionamentos: “o que queremos? o que faremos? quando faremos?”. Acho que utilizar esses grupos para exclamar xingamentos ao prefeito/governador/presidente desvia o objetivo do grupo e acaba caindo novamente no “reclamar é fácil”. Todos sabem dos problemas que enfrentamos. Cabe agora discutir o que podemos fazer de fato para resolver esses problemas. Aí, como bem entende o prefeito João Castelo, o buraco é mais embaixo.
Bem, se você tiver chegado até essa linha do texto, espero que pense bem no significado e na importância dos “sim” que anda distribuindo por aí. E espero mais ainda que o espírito de PROATIVIDADE se espalhe por nós jovens para que consigamos acabar com a ficha suja de marasmo e comodismo que a nossa geração atual carrega consigo para que finalmente esses protestos organizados na internet sejam concretizados.
(Joyce Araújo)

19 de abril de 2011

Quem diria!

Aquela garota que tem estilo de vestir totalmente avesso ao seu, fala alto e não raro protagoniza cenas que te repelem, pode, e geralmente tem muito a te ensinar e ainda vai te fazer rir um bocado.

Aquele que você nunca sequer ouviu o timbre e que está sempre ‘vidrado’ em tudo que o professor fala, sempre com gestos tão dosados – à tua impressão até economizados - quem diria, tem um mundo inteiro para descortinar pra ti. Quanta experiência e quanto senso de humor, uau!

O carinha ali pode estar mais para o mínimo do que para o máximo.

O pessoal que vem sempre tão arrumado e leva estampado na cara um colegial beeeem diferente do teu - com uma gama de facilidades que tu considerava apenas darem vazão à baixa auto-suficiência e ao nariz empinado – te faz evaporar com essa idéia rapidinho e ainda te aparece com uma série de afinidades.

O colégio que você achava ser o mundo de nerds enquadrados, e que chegou até a te dar um friozinho na barriga, Rá! Esse te surpreendeu e como!

O reggae que em tempo algum nem de longe te encheu os olhos, agora te parece até bem simpático.

É assim, meus bons! Flexibilidade e bom humor é o que há. O resto se improvisa e aprende, da melhor ou da pior forma. Ambas são válidas.

Todo e qualquer pré-julgamento é RASO. E tenho dito. Parte da preguiça mental e é até justificável, mas não aceitável. Justificável ele até pode ser quando você constrói ou se apropria de um encadeamento “lógico” de argumentos para sustentar qualquer babaquice que seja para a princípio não ser taxado de leviano(a). No entanto aceitável, insisto, não é e se você ainda não aprendeu de boa vai aprender com a Prática– A melhor professora do universo.

Se passou pela sua cabeça que em tempo algum você praticou pré-julgamento , reconsidere com gosto. Elaborar uma /idéia/projeto//conceito e o Raio precedido por: ninguém, sempre, todo mundo, nunca, todos (as) é o primeiro sinal de que você já o fez. São frases estilo todo "funkeiro é...", "pessoas de tal lugar são sempre...".E isso é tão instintivo. Não é preciso se considerar a pior pessoa do mundo por isso. Apenas reconsidere.

A parte boa é que idéias desse tipo costumam desmoronar de forma triunfal. Elas parecem justamente exigir esse tipo de enlace. E isso é bom.

A imagem usada pertence a http://permulti.blogspot.com/2010/05/informatica-medica.html#comments

6 de março de 2011

Por aqui já não é novidade a minha admiração por L. F. Veríssimo, pela sua incrível habilidade de criar e recontar situações e pela maleabilidade com a qual ele conduz tudo o que escreve, em especial as crônicas. Segue então uma das minhas preferiidas que parece fazer jus a muito do que tem acontecido ultimamente. Essa vem direto do livro - A mesa Voadora.

Voracidade.

Estávamos num cinema nos Estados Unidos. Na nossa frente sentou-se um americano imenso decidido a não passar fome antes do filme acabar. Trouxera do saguão um balde — literalmente um balde — de pipocas, sobre as quais eles derramam um líquido amarelo que pode até ser manteiga, e um pacote de M&M, uma espécie de pastilha envolta em chocolate. Intercalava pipocas, pastilhas de chocolate e goles de sua small Coke, que era gigantesca, e parecia feliz. Fiquei pensando em como tudo naquela sociedade é feito para saciar apetites infantis, que se caracterizam por serem simples mas vorazes. As nossas poltronas eram ótimas, a projeçáo do filme era perfeita, o filme era um exemplar impecável de engenhosidade técnica e agradável imbecilidade. Essa competência é o melhor subproduto da voracidade americana por prazeres simples. O que atrai nos Estados Unidos é justamente a oportunidade de sermos infantis sem parecermos débeis mentais, ou pelo menos sem destoarmos da mentalidade à nossa volta, e de termos ao nosso alcance a realização de todos os nossos sonhos de criança, quando ninguém tinha senso crítico ou remorso.

Mas o infantilismo dominante tem seu lado assustador. Nenhum carro de polícia ou de socorro do mundo é tão espalhafatoso quanto Os americanos. Numa sociedade de brinquedos caros, quanto mais luzes e sirenas mais divertido, mas o espalhafato também parece criar uma necessidade infantil de catástrofes cada vez maiores. O caminho natural do apetite sem restrições é para o caldeirão de pipocas, para a Mega Coke e para a chacina. Existe realização infantil mais atraente do que poder entrar numa loja e comprar não um brinquedo igualzinho a uma arma de verdade mas a própria arma? Nos Estados Unidos pode. De vez em quando uma daquelas crianças grandes resolve sair matando todo mundo, como no cinema, mas a maioria dos que compram as armas e as munições só quer ter os brinquedos em casa.

Vivemos nas bordas dessa voracidade ao mesmo tempo ingénua e terrível, mas ela não parece entrar nas nossas equações económicas ou no cálculo dos nossos interesses.

Somos cada vez mais fascinados e menos críticos diante do grande apetite americano e de um projeto de hegemonia chauvinista e prepotente como sempre, agora camuflado pelos mitos da "globalização". Quando a prudência ensina que se deve olhar os americanos do ponto de vista das pipocas.

(A mesa Voadora - Luis Fernando Veríssimo)

Dá uma olhada

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